Diretor geral da Barenbrug do Brasil avalia riscos do coronavírus para o mercado de sementes forrageiras e agronegócio
Autor: Felipe Piccoli
Publicado em 26/03/2020
Autor: Felipe Piccoli
Publicado em 26/03/2020
A disseminação do novo coronavírus no Brasil e no mundo tem gerado incertezas e preocupações em todos os setores da economia nas últimas semanas. Neste cenário, o agronegócio mantém-se alerta a um eventual maior agravamento da crise econômica e faz avaliações de riscos a médio e longo prazo. Contudo, até o momento, a pandemia não gerou impactos significativos, redução ou restrição na exportação de produtos agrícolas brasileiros, segundo o último boletim divulgado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O diretor geral da Barenbrug do Brasil, Álvaro Peixoto, corrobora com a análise da CNA, faz uma ressalva e avalia os efeitos da COVID-19 no mercado de sementes forrageiras no Brasil.
“De imediato, o impacto do coronavírus parece ser mínimo ao agronegócio brasileiro”, explica Álvaro. “Todavia, quando o cenário do coronavírus começar a afetar o consumidor, pelo desemprego ou pela queda de sua renda, um cenário de depressão econômica começa a se formar, baixando consumo, podendo afetar a cadeia de valor e a agroindústria, vindo, então, num efeito de trás para frente; ou seja, do consumidor para o agricultor. Isso poderá afetar o agronegócio em médio prazo. Talvez vejamos o impacto desta crise, especialmente no estabelecimento da próxima safra e novas negociações de commodities agropecuárias em alguns meses”, prossegue Álvaro, que concedeu uma entrevista ao Blog da Barenbrug do Brasil sobre os efeitos da pandemia do COVID-19 no mercado de sementes forrageiras e do agronegócio.
“Neste momento, o impacto (no mercado de sementes forrageiras) também é bem pequeno”, avalia Álvaro, que faz uma projeção para o segmento. “A crise do coronavírus não deverá ter um grande impacto na oferta em curto prazo ou na próxima safra, porque os campos de produção de sementes já estão plantados e registrados. Já a demanda, essa pode variar em médio prazo. Prefiro pensar no aumento da demanda, pela maior adoção de forrageiras pelo agricultor, seja como cultivo de cobertura ou na integração lavoura-pecuária. ”
Para não gerar um agravamento desnecessário ou ocasionar medidas cautelares em momentos inoportunos que afetarão a geração de receita do produtor são necessárias ações de mapeamento de riscos e um estudo de possiblidades para gerar produtividade a médio prazo. “Num país de agricultura tropical como o nosso, deixar de usar forrageiras, seja para renovação de pasto ou como cultivo de cobertura, poderá ter impacto futuro, com menor oferta de forragem e matéria orgânica, e consequente menor produtividade, exatamente momento em que a economia mundial estiver em recuperação; fato que certamente ocorrerá. Isso pode significar deixar dinheiro na mesa”, finaliza Álvaro.
Saiba mais:<<< CNA solicita medidas para produtor manter produção e superar a crise>>>
Pergunta Barenbrug: Como enxerga o impacto, até o momento, do coronavírus no agronegócio brasileiro?
Álvaro Peixoto: De imediato, o impacto do coronavírus parece ser mínimo ao agronegócio brasileiro. Há negócios sofrendo imediatamente como o de flores, afetado pelo cancelamento de eventos corporativos, jantares e casamentos, mas parece ser algo mais isolado. Muitos contratos futuros de commodities agrícolas estão feitos. A grande maioria da colheita de grãos de primeira safra já aconteceu, especialmente soja nas principais regiões produtoras. Muitos agricultores estão com suas lavouras de segunda safra em fase de estabelecimento. Há muito boi sendo engordado, seja em pastos ou confinamentos. No agronegócio, é difícil mudar o planejamento de uma hora para outra, portanto todos seguem seu plano original. A taxa de dólar mais elevada, por outro lado, estimula as exportações de produtos agrícolas pode ajudar o Brasil.
Todavia, quando o cenário do coronavírus começa a afetar o consumidor, pelo desemprego ou pela queda de sua renda, um cenário de depressão econômica começa a se formar, baixando consumo, podendo afetar a cadeia de valor e a agroindústria, vindo, então, num efeito de trás para frente; ou seja, do consumidor para o agricultor. Isso poderá afetar o agronegócio em médio prazo. Talvez vejamos o impacto desta crise, especialmente no estabelecimento da próxima safra e novas negociações de commodities agropecuárias em alguns meses. Talvez vejamos algumas agroindústrias sofrendo pela falta de consumo. O cenário é de desconforto e incerteza para todos.
Pergunta Barenbrug: Quais medidas são necessárias/precisam ser adotadas para a produção continuar e o setor seguir com sua missão de alimentar o mundo?
Álvaro Peixoto: Neste momento é importante as autoridades, em todo mundo, controlarem o pânico. Precisamos focar nas medidas de controle da doença, conhecer melhor como lidar com tudo isso. No Brasil, é importante dar atenção às medidas de distribuição de renda e estímulo aos pequenos negócios, porque há muitos trabalhadores informais e micro e pequenos empreendedores que dependem do consumidor comprando seus produtos e serviços.
O agronegócio brasileiro, por sua vez, deve continuar focando naquilo que sabe fazer de melhor: produzir qualidade com competitividade. Deve buscar sempre o “fazer diferente e melhor”, pela adoção de novas tecnologias e técnicas; porque mesmo durante ou depois da crise do coronavírus, o alimento é fundamental para o mundo. Talvez haja oscilações de preços, mas estar em situação de alta competitividade e capacidade de exportar é o que fará o setor continuar forte em nosso país.
Pergunta Barenbrug: Existe algum plano da Barenbrug previsto/estudado para ser colocado em prática caso a crise econômica permaneça por mais tempo e, desta forma, resulte em um impacto significativo no agronegócio?
Álvaro Peixoto: Somos uma empresa familiar, tradicional, com mais de 115 anos de vida no mercado internacional de sementes de forrageiras e gramados, atuando junto a agricultores e pecuaristas em diversas partes do mundo. Temos um negócio consolidado e muitas oportunidades para capturar em mercados emergentes, como o Brasil. Não temos pressa, mas, sim, confiança em nosso trabalho e em nosso profissionalismo. Temos um planejamento estratégico para os próximos cinco anos, que nos dá visão de mais longo prazo, que permite ajustar nosso caminho, imprimindo maior ou menor velocidade no crescimento de nosso negócio. Com crise ou sem crise, seguiremos nosso propósito de atender bem aos nossos clientes, tendo o produtor rural no centro de nosso negócio, entendendo sua necessidade e buscando junto com ele as melhores soluções.
Pergunta Barenbrug: Especificamente sobre o mercado de sementes forrageiras: você sentiu algum impacto, mudança de cenário ou prevê uma reformulação de ações em virtude da crise ocasionada pela pandemia?
Álvaro Peixoto: Neste momento, o impacto também é bem pequeno. Falamos de dois negócios, praticamente: pastos, que são utilizados para alimentação e nutrição animal (pecuária), e cultivos de cobertura, usados para proteção e melhoria da estrutura física, química e biológica do solo (agricultura). O período de plantio de forrageiras tropicais dos dois mercados já está chegando ao final, com exceção de algumas regiões de norte e nordeste. Já a região sul, que possui forrageiras de clima temperado deverá contar com seus plantios normalmente.
Caso a pandemia não seja controlada de acordo, dentro de três ou quatro meses, causará um impacto grande à sociedade, de forma geral, com desempregos, queda de renda e uma grande redução no consumo, que por conseguinte afetará a cadeia agroindustrial, chegando ao produtor rural. Alguns produtores devem procurar reduzir seus investimentos em tecnologia.
Todavia, esperamos que os dois mercados, tanto da agricultura, quanto o da pecuária, continuem usando forrageiras em seus sistemas produtivos, pensando no retorno de investimento. Num país de agricultura tropical como o nosso, deixar de usar forrageiras, seja para renovação de pasto ou como cultivo de cobertura, poderá ter impacto futuro, com menor oferta de forragem e matéria orgânica, e consequente menor produtividade, exatamente momento em que a economia mundial estiver em recuperação; fato que certamente ocorrerá. Isso pode significar “deixar dinheiro na mesa”.
Pergunta Barenbrug: Você prevê que o número de exportações de sementes forrageiras brasileiras sofrerá algum impacto?
Álvaro Peixoto: O cenário de produção agrícola nos outros países não será diferente que o cenário no Brasil. O cenário da exportação de sementes não deve mudar muito, por sua vez.
Outros países tropicais que utilizam forrageiras tropicais precisam importar sementes. Felizmente, quando falamos em forrageiras tropicais, o Brasil é o país que apresenta melhor aptidão climática para produção de sementes.
Os clientes internacionais exigem sementes de qualidade muito superior àquela permitida no Brasil. Todavia, a Barenbrug está preparada para atender estas especificações e cumprir os requerimentos regulatórios destes países, pois toda nossa produção é feita nos mais altos padrões de qualidade para as sementes forrageiras, seja para o mercado interno ou para exportação.
Pergunta Barenbrug: Você prevê alguma alteração no preço de produtos/sementes em virtude da crise a curto/médio ou longo prazo?
Álvaro Peixoto: Todo negócio é regulado pela famosa lei da oferta e demanda. O negócio de forrageiras não é diferente e, ao mesmo tempo, é bem específico. A crise do coronavírus não deverá ter um grande impacto na oferta em curto prazo ou na próxima safra, porque os campos de produção de sementes já estão plantados e registrados. Já a demanda, essa pode variar em médio prazo. Prefiro pensar no aumento da demanda, pela maior adoção de forrageiras pelo agricultor, seja como cultivo de cobertura ou na integração lavoura-pecuária.
Pergunta Barenbrug: Os produtores e as cooperativas devem se preocupar com o abastecimento ou, ao que tudo indica até o momento, o estoque de sementes forrageiras tem capacidade para suprir a demanda?
Álvaro Peixoto: Os campos de produção de sementes, que atenderão a próxima safra, já estão plantados e registrados. Não verificamos alterações em relação à média histórica de área plantada. Correndo tudo bem com o clima até a colheita, o abastecimento de sementes deverá ser regular. Todavia, produtores e cooperativas devem ficar atentos à qualidade desta semente oferecida no mercado, que é, em muitos casos, duvidosa.
Pergunta Barenbrug: Por fim, qual mensagem você deixa para os produtores/cooperativas/canais de distribuição neste momento ímpar na história da economia e agronegócio mundial?
Álvaro Peixoto: Ter cuidado com algumas abordagens e comentários, em redes sociais ou em público, pode causar constrangimentos e afetar relações comerciais. Apesar de a crise do coronavírus ter se iniciado na China, importante lembrar que a China é o maior cliente do agronegócio brasileiro. Portanto, cuidado com comentários e avaliações, que devem ser medidos e adequados. A crise hoje afeta a todos, é global.
O cenário é triste, ainda traz incerteza e insegurança. O mais importante é ter calma e avaliar os possíveis horizontes, mesmo que neste momento tenhamos um pequeno impacto no agronegócio brasileiro. Talvez algumas alterações ou ajustes sejam importantes no setor produtivo. Acredito que seja hora de revisar custos, carteiras de clientes, políticas comerciais, posicionamento, jeito de fazer...; pensando numa piora de ambiente comercial. Nunca há um plano perfeito, mas todo plano pode, e deve ser revisto.
Felizmente, o alimento que o agronegócio produz é item essencial em qualquer parte do mundo. E o Brasil é um grande e importante player global, que tem sempre a oportunidade de liderar mudanças e antecipar tendências para consolidar sua posição de competitividade.